Atualmente o mercado exige que sejamos altamente produtivos, independente da area de atuação, e quando falamos de tecnologia essa exigência aumenta ainda mais.

Portanto, precisamos automatizar tarefas repetitivas sempre que possível e neste post trago uma de muitas possíveis soluções para você manter um projeto com um
pipeline que automatiza o seu deploy e mede a qualidade do seu código.

Nesse artigo iniciaremos um projeto do zero e o deixaremos configurado para o deploy. Utilizaremos o Github como nosso gerenciador de repositório, o Ruby on Rails como web framework para o nosso projeto, o Code Climate para análise de qualidade e cobertura de testes, o TravisCI como nosso servidor de Integração Continua e o Heroku como provedor da nossa aplicação.

Você deve estar se perguntando, porque ele fez essas escolhas? Quando concluir explicarei 😉

Cobrir todo conteúdo git, rails, etc, foge do escopo deste post. Portanto, tenho em mente que você já tenha algum conhecimento ou busque-os com as referências apontadas na primeira vez em que cito os mesmos;

Os passos abaixo serão demonstrados usando um sistema unix.

Criando a aplicação Rails

O Rails é um framework de código aberto para desenvolvimento de aplicações web feito sobre a linguagem Ruby, otimizado para a felicidade do programador \o/. Portanto, caso você não conheça, não perca mais tempo 😉
Execute o comando a seguir para instalar a gem do Rails

~ $ gem install rails

Esse comando instalará a versão atual do Rails. Em seguida, crie a aplicação de exemplo blog e navegue para ela.

~ $ rails new blog
  $ cd hello-rails

Pronto, já criamos nossa aplicação. Simples, não foi?
Para verificar se tudo ocorreu corretamente, vamos iniciar a nossa aplicação

$ rails server

Se tudo ocorreu bem, nossa aplicação poderá ser acessada através da url http://localhost:3000 e você verá uma página semelhante a essa imagem:

Criando um repositório no GitHub

O GitHub é um provedor de repositórios Git que permite a você gerenciar de maneira muito fácil seu projeto, oferecendo Wiki Pages, controle de issues, gráficos para analisar melhor as contribuições, etc.

O Git é um sistema de controle de versão distribuído de código aberto e gratuito.
Você pode instalá-lo, caso ainda não o tenha feito, manualmente baixando o instalador ou através do Homebrew. Para este exemplo usaremos o Homebrew, portanto execute o comando a seguir:

~ $ brew update
  ~ $ brew install git

Se tudo ocorreu bem, esse comando mostrará a versão do git instalado:

~ $ git version

Com o Git instalado, vamos adicionar o controle de versão sobre o nosso projeto com o comando:

/blog $ git init

Pronto! Com esse único comando, nosso projeto está sobre controle de versão =). Para você conferir o estado do projeto, execute o comando:

/blog $ git status

Você verá uma lista com todas as alterações no seu projeto. Como acabamos de criá-lo, apenas faremos um commit da versão inicial do projeto.

/blog $ git add .
  /blog $ git commit -m 'initial version'

Ok. Agora estamos pronto para criar nosso repositório no GitHub. Vá até o GitHub e crie uma conta, caso não possua. Após isso crie um novo repositório Public com o nome blog. Conforme a imagem abaixo:

Após isso o Github te dá uma serie de opções. Nós escolheremos a de usar um repositório existente, pois já temos um local. Então execute os comandos sugeridos por ele na pasta do projeto, substituindo your_account pela sua conta. Veja

# Adiciona uma referência chamada origin, de um repositório remoto para o nosso repositório local
  ~ $ git remote add origin https://github.com/your_account/blog.git
  # Envia o conteúdo do nosso branch local **master** para um novo branch **master** no repositório remoto linkando-os
  ~ $ git push -u origin master

Logo em seguida o git pedirá pra você se autenticar. Informe sua conta e senha. Após isso, visite o seu repositório novamente, você verá que o código que criamos se encontra lá em um branch master.

Com o repositório criado no Github, você pode adicionar novos colaboradores da sua equipe e até mesmo receber contribuições através de Pull Requests.

Adicionando Analise de qualidade e cobertura de testes

É essencial à todo projeto que começa a evoluir e receber contribuições, poder analisar a qualidade do seu código e qual o percentual de cobertura dos seus testes.

Para isso utilizaremos o Code Climate que oferece esses serviços gratuitamente para projetos open source nas linguagens Ruby, Javascript e PHP, além de integrações com diversos sistemas que ajudam no gerenciamento do seu projeto.

Adicionar o Code Climate é simples, vá até o site, faça o login com sua conta do Github e clique em Add Open Source Repo.

Então informe o path your_account/blog e clique em Import Repo from GitHub. Após isso o Code Climate fará a analise de qualidade do repositório informado.
Caso esteja demorando para exibir a resposta, atualize a página.
Ok.

Após isso você pode ver que ele gerou uma métrica que vai de 0 a 4 para o seu projeto, onde 4 é o máximo, o que não quer dizer que o projeto é perfeito, mas pelo menos você está seguindo as práticas recomendadas.

Agora podemos configurar a nossa cobertura de teste. Ná página do nosso projeto https://codeclimate.com/github/your_account/blog e clique em Set Up Test Coverage. Seguindo as instruções informadas precisamos:

  • Adicionar a gem codeclimate-test-reporter ao nosso arquivo Gemfile:
gem "codeclimate-test-reporter", group: :test, require: nil
  • Adicionar na primeira linha do nosso test_helper.rb as linhas a seguir:
require "codeclimate-test-reporter"
  CodeClimate::TestReporter.start
  • Execute o bundle install, pois adicionamos uma nova gem no nosso Gemfile
$ bundle install
  • E quando formos executar nossos testes, devemos informar o token do Code Climate para o nosso projeto, para que ele atualize o status da cobertura de testes:
$ CODECLIMATE_REPO_TOKEN=f8c67efe3adebe899e094743fb370e1ca2d71e31db12773e3396a608f5b1ebbf bundle exec rake

Quando executarmos o comando acima, nenhum relatório de cobertura será gerado ainda, pois não temos nenhum teste no nosso projeto.  Mas fique tranquilo, faremos isso posteriormente.
Adicione ao arquivo .gitignore a seguinte linha:

coverage/

Pois quando rodarmos os testes, ele gera um relatório nesse diretório e envia ao Code Climate, portanto vamos ignorá-lo.

Um recurso bacana, são os badges que o Code Climate fornece para o status do seu projeto. Ele torna fácil para qualquer pessoa visualizar quais as métricas
do projeto, com link para uma melhor análise. Então vamos adicioná-lo.

Acesse a url referente as métricas do seu projeto e adicione /badges ao final da url. Ex.: https://codeclimate.com/github/your_account/blog/badges.

Copie os badges para rdoc e cole-os no arquivo README.rdoc do projeto. Ex.

# BLOG
  {<img src="https://codeclimate.com/github/ddomingues/blog/badges/gpa.svg" />}[https://codeclimate.com/github/ddomingues/blog]
  {<img src="https://codeclimate.com/github/ddomingues/blog/badges/coverage.svg" />}[https://codeclimate.com/github/ddomingues/blog]

O Code Climate te dá a flexibilidade de escolher quais arquivos você quer analisar, para isso vá em Settings e clique na aba Analysis, lá você pode informar um pattern para ignorar pastas ou arquivos 😉

Com isso configuramos a análise do nosso código. Faça um commit e push das alterações e bora pra próxima etapa.

Colocando nossa aplicação no Heroku

Se você ainda não conhece o Heroku, ele é um PaaS que fornece uma plataforma completa para que você possa executar e gerenciar suas aplicações sem se preocupar com toda complexidade de infraestrutura.

O Heroku fornece muitas integrações para suas aplicações, nomeados como Add-ons, que você pode adicionar à sua aplicação quase que transparentemente.

Mas chega de conversa, para mais detalhes, dê uma espiada na documentação do site, que por sinal é excelente 😉

Antes de criar nossa aplicação no Heroku, precisamos fazer alguns ajustes na configuração do nosso projeto. Por padrão, o Rails cria o projeto usando como modulo de acesso a dados o SQLite3, porém ele não é recomendado para produção, então precisamos de um banco de dados robusto. Como recomendado pelo Heroku, usaremos o PostgreSQL.

Altere a linha a seguir do nosso Gemfile

gem 'sqlite3'

por

gem 'sqlite3', group: [:development,:test]
  gem 'pg', group: :production

Ok. Agora precisamos adicionar a gem que habilita o heroku para servir nossos assets estaticamente e integrar os logs.

gem 'rails_12factor', group: :production

Vamos também apontar qual a versão do Ruby que queremos que o Heroku suba nossa arquitetura. Adicione no Gemfile após o source 'https://rubygems.org', da seguinte maneira:

source 'https://rubygems.org'
  ruby '2.1.5'

Como alteramos nosso Gemfile é necessário que a gente execute o comando abaixo, para atualizar nossas dependências:

/blog $ bundle install

E comitar nossas alterações:

/blog $ git add .
  /blog $ git commit -m 'Adding Heroku configuration'
  /blog $ git push

Pronto. Agora vamos criar nossa aplicação no Heroku, para isso execute os seguintes passos:

  • Crie uma conta.
  • Baixe o Heroku Toolbelt que permite que você tenha acesso ao Heroku via linha de comando.
  • Autentique-se no heroku:
/blog $ heroku login
  • Crie a aplicação
/blog $ heroku create

Ao rodar o comando acima, uma referência remota para um repositório no heroku é adicionado ao nosso projeto com o alias heroku.

O Heroku também gera um nome aleatório para sua aplicação, veja no log algo parecido com isso: Creating cryptic-eyrie-5775... done, onde cryptic-eyrie-5775 é o nome da aplicação que o heroku gerou.

No entanto, você pode personalizá-lo, renomeando-a caso o nome desejado esteja disponível, com o comando a seguir.

/blog $ heroku apps:rename newname
  • Suba nosso projeto
/blog $ git push heroku master

Você verá todo o log do processo de build da aplicação no heroku.
Caso finalize com sucesso, ao rodar o comando abaixo você verá a aplicação rodando no Heroku.

/blog $ heroku open

Como não implementamos nada na aplicação, ele não encontrará a página index. Faremos isso em uma próxima etapa.

Já viu algo mais simples? =)
Ainda não acabou.

Adicionando o Servidor de Integração Continua Travis CI

O Travis CI é um serviço que possibilita a build do seu projeto, execução de testes e facilita o deploy de uma maneira muito simples e flexível, permitindo que você foque no que é mais importante, seu código.

Configurar o travis no seu projeto é muito simples. Vá ao site e crie uma conta usando o seu usuário do GitHub. Ele listará todos os repositórios públicos da sua conta, então selecione o repositório do nosso projeto. Adicione um arquivo .travis.yml na raiz do projeto. Após isso o Travis estará observando seu repositório, e no próximo push que o repositório receber, ele fará o build do projeto.

Ok. Agora vamos customizar o nosso build. O Travis é bem flexível e nos permite personalizar praticamente todas as etapas do Build, por exemplo: antes ou após o build, faça algo. Portanto vamos customizar nossa configuração.

A idéia é simples, após o Travis executar nossos testes, caso todos os testes passem, eu quero que ele faça deploy no Heroku \o/

Para isso, vamos a configuração. Primeiro vamos informar qual a linguagem no projeto e qual a versão do Ruby queremos que o travis utilize. Adicione ao arquivo .travis.yml as seguintes intruções:

language: ruby
  rvm:
  - 2.1.5

Após isso vamos adicionar um e-mail para que o Travis nos notifique ao final do build qual o status, sucesso ou falha.

notifications:
  email:
  - [email protected]

O Travis já tem integração com vários serviços, e um deles é Code Climate. Como já fizemos a configuração do nosso projeto, basta adicionarmos as instruções abaixo, substituindo pelo token do nosso projeto:

addons:
  code_climate:
  repo_token: adf08323....

Ok. Agora o mais legal, após o nosso build ser feito com sucesso queremos que ele faça o deploy. Para essa integração basta informarmos o token do Heroku para nossa aplicação. Porém, por motivo de segurança não devemos expor o token da nossa aplicação. Para solucionar isso, o Travis fornece um client que encripta nosso token de maneira muito simples. Para instalá-lo rode o seguinte comando:

~ $ gem install travis

Com o travis instalado vamos encriptar nosso token. Na raiz do nosso projeto execute:

~ $ travis encrypt $(heroku auth:token) --add deploy.api_key

Esse comando encriptará nosso token e já adicionará as instruções a nossa configuração. Algo similar a isso:

deploy:
  provider: heroku
  api_key: ...

O Travis, por padrão, tentará fazer deploy em uma aplicação com o mesmo nome do repositório, para personalizar você pode informar o nome que você deu para sua aplicação, por exemplo personal-blog. A configuração ficaria assim:

deploy:
  provider: heroku
  api_key: ...
  app: personal-blog
  run: "rake db:migrate"

Um ponto importante, é que nossa base de dados evolui constantemente então, precisamos adicionar o comando para executar nossas migrações.

Por fim, vamos adicionar a badge do status do nosso build ao README.rdoc.

{<img src="https://travis-ci.org/ddomingues/blog.svg?branch=master" alt="Build Status" />}[https://travis-ci.org/your_account/blog]

É isso. Faça um commit com nossas alterações e quando o repositório receber o push, o Travis fará o build, e caso tenha sucesso, enviará nosso build para o heroku.
Sensacional, não é? =)

Evoluindo nossa aplicação

Agora para simular um cenário real de desenvolvimento, vamos gerar um CRUD de exemplo. Execute o seguinte comando:

rails generate scaffold article title description:text

O comando scaffold criará um recurso do modelo article, incluindo todas ações CRUD com testes, views, helpers, migration, etc.

Como geramos um novo modelo, precisamos executar a migration criada para evoluir nosso base de dados, portanto execute:

/blog $ bundle exec rake db:migrate

Ok. Para ver em ação, acesse a url http://localhost:3000/articles.
Você pode ver os testes gerados na pasta test. Por padrão o Rails usa o minitest, para mais detalhes veja sua ótima documentação.
Para rodar os testes, execute o comando:

/blog $ bundle exec rake test

Se você seguiu todos os passos corretamente, os testes estarão passando. E verá algo parecido com isso:

# Running:
  .......
  Finished in 1.157917s, 6.0453 runs/s, 11.2271 assertions/s.
  7 runs, 13 assertions, 0 failures, 0 errors, 0 skips

Agora vamos apontar o root da nossa aplicação para a index dos nossos artigos. Altere o arquivo routes.rb para:

Rails.application.routes.draw do
  resources :articles
  root 'articles#index'
  end<

Agora ao acessarmos a url root da nossa aplicação, veremos a página index do recurso Article. Faça um commit e push das alterações.

Você verá que o Travis fará um novo build e ao final, fará um deploy da aplicação com nossas alterações.

Vá a url da sua aplicação no Heroku, e você verá que sua aplicação está sincronizada com seu branch master. Legal neh =)

Faça algumas alterações, quebre o build, corrija. Explore recursos não citados aqui!
Esse é um fluxo básico, poderiamos trabalhar também com um ambiente de staging, utilizar a técnica de Feature Branch com pull-requests, code-review, mas isso fica como lição de casa, seja curioso! 😉

Caso você queira ver o código final dessa aplicação de exemplo, veja o meu repositório

Conclusão

Quase esqueci de explicar o porque escolhi essas tecnologias. Escolhi, porque eu quero, o blog é meu =P … Zueira…

Bom acho que se você chegou até já aqui deve ter observado o porquê. Escolhi pela simplicidade, facilidade, qualidade e flexibilidade que todas essas tecnologias oferecem.

O Rails é um web framework fantástico e completo, além de ser feito em Ruby =). Quando você descobre se apaixona.

O Git dispensa comentários, usado com o GitHub, fica melhor ainda. Não usei quase nada dele no post, mas recomendo muito que você se aprofunde em conhecê-lo melhor, é fantástico.

O Code Climate é essencial, auxiliando a manter a qualidade do seu projeto, facilitando o refactoring, apontanto código duplicado, entre outros. Caso, você ache o
serviço caro, você pode utilizar alternativas que, inclusive, o próprio Code Climate utiliza, como SimpleCov, Rubocop, etc.

Heroku é o PaaS mais fácil que conheço para gerenciar e fazer o deploy de uma aplicação, permitindo à você focar no mais importante, seu negócio/código. Há tantas alternativas que nem vou citar todas, mas entre elas uma opção bacana também é a Digital Ocean.

Quanto a Servidor de Integração Continua, optei pelo Travis pela flexibilidade, simplicidade e qualidade, mas vale a pena dar uma olhada no Snap CI e no Wercker
O mais importante desse post, é notar que ao eliminar tarefas repetitivas do nosso fluxo de trabalho, aumentamos nossa produtividade, e evitamos possíveis erros que poderiam vir a ocorrer. Afinal, somos humanos, e humanos falham 😉

Apenas apresentei aqui o básico dessas tecnologias bacanas, é essencial que você se aprofunde para um melhor aproveitamento delas.

É isso aí galera. Espero que tenham gostado, desse meu primeiro post. Deixe ai seu comentário, e me de seu feedback! =)

Autor

André Faria Gomes é executivo, empreendedor, investidor, mentor, gerente, escritor, palestrante, podcaster e agilista. Atualmente, é CEO da Bluesoft em São Paulo, investidor e membro do conselho da Wow e mentor da Liga Ventures.

6 Comentários

  1. Eu não programo utilizando Ruby nem Rails, mas esta publicação me ajudou muito a descobrir novas ferramentas. Agora estou utilizando o Travis CI!
    O texto está muito bem redigido também. Fácil e intuitivo. Parabéns!

  2. Antonio Edirane Resposta

    Post muito bom.
    Detalhamento de todos os passos ficou ótimo. O gif de criação de conta no github ficou muito bom também.
    Parabéns Diego.

  3. Ae sim Diego.
    Bem legal seu post ^^.
    Ainda quero testar melhor o Travis, mas acho muito massa.
    E Rails é animal, muito fácil de já sair produzindo algo legal 😛
    Abraços

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