Você sente que seu time está sempre melhor? Estão constantemente aprendendo coisas novas? Estão amadurecendo? Estão desenvolvendo projetos com mais qualidade e tecnologias melhores? Sua equipe é inovadora? Vocês dominam, ou estão em busca de dominar as ferramentas e a tecnologia que utilizam? Estão acima da média, ou são medíocres?
Estas são perguntas que você provavelmente já se fez algumas vezes, não fez? Bom, nós também. Em busca de todas essas coisas que talvez possam ser representadas pela simples ideia da melhoria contínua, da evolução, nós criamos um programa de estudos da Bluesoft, que tem nos ajudado a melhorar semana após semana.

Já atingimos a marca de mais de 100 palestras com vídeos publicados em nosso canal do Vimeo e faz mais de um ano que o Bluesoft Labs nasceu. Dessa forma, creio que seja justo finalmente explicarmos como o projeto nasceu, como funciona e quais são os resultados que obtivemos até agora.
Em 2007, eu e o Luiz Faias Jr. tivemos um primeiro contato com métodos ágeis de desenvolvimento de software, e desde então muita coisa mudou. Antes de utilizarmos métodos ágeis aqui na Bluesoft, nós não tínhamos uma metodologia formal definida, e estávamos dispostos a encontrar uma solução que nos ajudasse a tornar nosso processo mais eficiente. Essa postura tornou a transição para métodos ágeis bem mais fácil. Percebemos que agilidade é simples, mas não é fácil!

Tornamo-nos mais organizados, passamos a ter reuniões de planejamento, estimativa, revisão e retrospectiva. Finalmente passamos a nos sentir como um verdadeiro time, em que todos sabiam o que estava sendo construído, e qual era a contribuição de cada um para que o resultado desejado fosse conseguido. Passamos a conhecer melhor o produto que estávamos construindo e nos sentimos mais responsáveis por ele.
O próximo passo foi em direção as práticas de Extreme Programming (XP). Nessa época, acredite se quiser, poucos membros da equipe sabiam que testes de unidade existiam. Foi um processo doloroso, mas muito gratificante. Começamos a escrever os primeiros testes de unidade, começamos a compreender um pouco sobre refactoring, modelagem ágil, e arriscar a utilizar Test Driven Development (TDD).

Embarcamos em todos os eventos e treinamentos de métodos ágeis e tecnologia que pudemos. Assinamos milhares de feeds da comunidade ágil e lemos todos os post que pudemos. Compramos pequenas montanhas de livros sobre Refactoring, Agilidade, Arquitetura, Design, Patterns, etc. Estávamos convencidos que deveríamos ter uma postura pró-ativa, e que apesar de sermos uma empresa pequena, e uma equipe pequena, tínhamos tudo para sermos os melhores no que fazíamos. Iniciamos nossa jornada em busca da excelência técnica.
Bom, foi exatamente aí que entramos em choque com a difícil realidade. Tínhamos muito código legado, nosso pessoal não estava tecnicamente preparado, e na verdade, a maioria não se dedicava fora do horário de trabalho para tornarem-se melhores profissionais. Eu e o Jr. percebemos que sozinhos estaríamos limitados, precisaríamos da colaboração de todos os membros da equipe. Não bastaria meramente pedir para que escrevessem testes e participassem das reuniões, nós precisaríamos fazer com que todos se apaixonassem pelo que faziam e proativamente buscassem melhorar a cada dia, dessa forma melhorando também a nossa equipe.
Foi aí que a coisa ficou feia! Como podemos pedir que as pessoas gostem de seus trabalhos, do que fazem todos os dias? E que gostem a tal ponto que queiram estar sempre aprendendo sobre melhores maneiras de fazê-lo? Será que isso já deveria vir pronto? Quero dizer, será que as pessoas não deveriam escolher trabalhos que amem e então naturalmente buscar estar em constante aprendizado, melhoria, evolução?
Começamos a refletir sobre o problema. Será que o problema são as pessoas? Será que temos as pessoas certas? É possível mudar as pessoas, ou ajudá-las a mudar? Há uma metáfora que diz que a mudança é uma porta que só pode ser aberta do lado de dentro. Talvez seja possível inspirar as pessoas. Instigá-las a sair do lugar, da zona de conforto, fazer com que percebam que o queijo não vai ficar pra sempre na estação C.
Bom, já que não podemos fazer com que alguém dedique seu tempo livre para estudar, será que podemos fazer com que estudem no tempo de trabalho? Será que valeria a pena permitir que as pessoas se dedicassem exclusivamente a aprender algo novo durante o horário de trabalho? Será que isso não teria uma influência negativa na produtividade? Sabíamos que o Google apresentara bons resultados com seu programa de 20% do tempo.
Foram esses questionamentos que deram origem ao Bluesoft Labs. Propusemos que cada membro da equipe utilizasse quatro horas por semana do horário de trabalho (10% do tempo) para estudar algo. Porém não apenas estudar e deixar por isso mesmo. Cada um deveria fazer uma palestra, ou screencast e um artigo sobre o tema estudado e o resultado deveria ser apresentado, então, a todos os outros membros da equipe.

Todos pareceram ter gostado bastante da ideia. Todos aqueles livros que havíamos comprado antes, finalmente começaram a efetivamente serem lidos por alguém. Tivemos apresentações de livros consagrados como ‘Working Effectively with Legacy Code’ de Michael Feathers, ‘Clean Code’ de Bob Martin, ‘Implementation Patterns’ de Kent Beck, A Cabeça de Steve Jobs, Getting Real e Rework da 37 Signals, entre outros, além de temas como Business Intelligence, Refatoração de Banco de Dados e Toyota Production System. Dedicamos um hora todas as quartas-feiras para que as apresentações fossem realizadas. As apresentações eram de 45 minutos mais um tempo para perguntas.

Além das apresentações sobre livros e temas, combinamos que sempre que alguém fosse a um evento, na volta, teria que fazer uma palestra para o resto da equipe sobre o que aprendeu durante o período que esteve ausente. Tivemos apresentações sobre o Just Java, o The Developers Conference, o Ágiles, o Encontro Ágil, o Rails Summit. Percebemos que isso ajuda a pessoa a ter uma atitude bem mais responsável em relação ao evento.
Pouco tempo depois me deparei com um post da Lisa Crispin chamado ‘Uma cultura de aprendizagem’ em que Lisa falava da importância de ter tempo para aprender nas organizações. Já tínhamos gravado algumas entrevistas com o pessoal da equipe, e estávamos com a ideia de começar a gravar um podcast. O post da Lisa, foi então inspiração para o primeiro episódio do Bluesoft Podcast em que falamos sobre o Labs e outras iniciativas para cultivar um ambiente em que as pessoas aprendam.
O tempo foi passando e percebemos bastante evolução, agora na equipe como um todo. Todos estavam envolvidos com o estudo de alguma coisa e ansiosos para ver as apresentações dos outros. Com o tempo fomos mudando o formato, e agora temos três apresentações por semana, na terça, na quarta e na quinta, porém, cada apresentação tem apenas 15 minutos de duração. Dessa forma a frequência das apresentações é maior e combate-se melhor o mal da protelação. Sabe como é, acaba-se deixando tudo sempre para a última hora.

Essa é a estória do nascimento do Bluesoft Labs. Gostaria de recomendar a você, especialmente, você que tem influência sobre decisões nas equipes de desenvolvimento, que pensasse um pouco sobre isso. O que você pode fazer para ajudar os membros da sua equipe a se tornarem profissionais melhores? Faça-se novamente as perguntas no início do artigo, e, para cada uma delas, procure pensar em como VOCÊ pode atuar para transformar a realidade para melhor. Não espere pelos outros. Não espere por milagres.
Quero alertá-lo de início que a sua parte, por mais que você faça, é só metade do caminho, é só 50%. Cabe à pessoa querer ser ajudada. Querer aprender, querer melhorar. Não desista se encontrar algumas pessoas com má vontade, ou pior, sem vontade alguma. Sempre há alguém que vai abraçar a oportunidade.
Claro que nós ainda temos a melhorar e aprender e continuaremos sempre compartilhando o que descobrirmos ao longo do caminho.
E você, o que pensa? A responsabilidade é sua, da sua empresa, ou de ambos? A sua empresa tem algum tipo de programa parecido? Deixe seu comentário e feedback.
Boa Sorte!
Sinceramente,
André Faria

Autor

André Faria Gomes é executivo, empreendedor, investidor, mentor, gerente, escritor, palestrante, podcaster e agilista. Atualmente, é CEO da Bluesoft em São Paulo, investidor e membro do conselho da Wow e mentor da Liga Ventures.

26 Comentários

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  6. Adorei!
    Sei como é querer aplicar ferramentas novas e alguns acharem “desnecessário”…. (ou preguiça mesmo) . É muito ruim, porque sozinho não se faz nada, os demais precisam sim entrar na idéia.
    Certamente usarei o material de vocês!

  7. Adnilson Soares Resposta

    Parabéns, Bluesoft!
    Eu faço parte de um grupo de estudo na cidade de Sorocaba-SP que mensalmente aborda assuntos relacionados ao desenvolvimento de software.
    Os integrantes do grupo utilizam frequentemente os materiais produzidos pelo Bluesoft Labs para enriquecer o conteúdo das nossas discussões ou como ponto de partida para o estudo de algum tema.
    Com o Labs, vocês estão colaborando com a cultura de aprendizagem de toda a comunidade de desenvolvedores. Belo trabalho.

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  9. Em primeiro lugar gostaria de agradecer a Empresa Bluesoft pela oportunidade que tem dado não somente a mim, mas a todos os profissionais envolvidos nesse processo de aprendizagem do Bluesoft Labs. Gostaria de agradecer em especial ao Luiz Faias Junior e ao André Faria que tem apostado nesse trabalho, investindo na equipe, motivando a todos a buscarem o aperfeiçoamento técnico. Parabéns a todos.

  10. Olá Luiz/André e todo pessoal da BlueSoft!
    Parabéns por esse 1 ano de Labs e que muitos anos venham com muito material relevante e interessante para a comunidade.
    Estão convidados para o evento que estamos organizando aqui no Vale do Paraíba, http://www.agilevale.com.br. O que acham de fazer uma palestra sobre este assunto “Cultura de Aprendizagem” e com o case da BlueSoft Labs?

  11. Parabéns!
    Bom ver que existem pessoas que trabalhe com a sua equipe, ao invés de sair trocando os profissionais. Hoje existe uma visão, na própria comunidade ágil, de contratar “as pessoas certas”, quando na verdade qualquer pessoa pode ser “a pessoa certa”, é tudo uma questão de motivação e propósito. Muito bem”

  12. Parabéns pelo 1 ano de Bluesoft Labs!
    Não só vocês aprenderam muito nesse 1 ano, como a gente também 🙂
    O material produzido por vocês é muito bom, e vocês conseguiram algo que é muito difícil nas empresas, engajar as pessoas a buscarem o aperfeiçoamento contínuo. E de quebra, vocês ainda fazem isso, compartilhando esse conhecimento com a gente.
    Muito obrigado! E vida longa ao Bluesoft Labs!

  13. Palmas para esse cultivo de uma cultura de compartilhamento e aprendizagem (internos e externos a empresa), duas coisas bastante relacionadas.

  14. Marcel Castilho Resposta

    Muito bacana a história de vocês. A Bluesoft serve de exemplo para muitas empresas por aí, incluindo a nossa. Parabéns a todos!

  15. Parabéns, vocês são um exemplo para todos! O trabalho de vocês é muito inspirador, me ajuda muito a manter a motivação. Estou atualmente
    iniciando um trabalho de divulgação e uso de metodologias ágeis na empresa onde eu trabalho, e com certeza o material do blue labs será muito útil. Continuem assim!

  16. Parabéns galera! Show de bola! Saibam que nós da SEA estamos sempre ligados no que acontece aí. Aprendemos muito com vcs!

  17. Acredito que existam aquelas pessoas que estão na zona de conforto e acham que não devem sair disso e outros que acham que todos deveriam ser mais ativos. Mas muitos do que estão na zona de conforto podem ser trazidos para o “outro” lado através de iniciativas como esta. Eu mesmo sou uma dessas pessoas que está caminhando para o “outro” lado porque comecei a perceber a profundidade dessa mudança na postura da empresa e como a equipe cresce verdadeiramente com isso. É um crescimento que não se perderá nem mesmo com a falência da empresa, vai nos marcar para o resto de nossas vidas. Parabéns a todos nós!

  18. Henrique Imbertti Resposta

    Muito inspirador! Talvez seja esse formato de 15min e com uma frequencia maior que nós precisamos. E continuem evoluindo 😉

  19. Me sinto honrado em fazer parte desta equipe. Nenhum salário poderia pagar o aprendizado que estamos adquirindo e ao mesmo tempo transmitindo aos amigos de “todo o mundo”.

  20. Parabéns garotos e garotas. Excelente visão e missão. Amo você e admiro a equipe e o poiesis que desenvolvem.

  21. Concerteza um puta walkthrough pra tornar a empresa mais legal!
    Parabéns pelo post e principalmente pelas pessoas e empresa que são. 😉

  22. Cara, que belo relato, muito legal mesmo. Deveria servir de exemplo e motivação para empresas que ainda não tem práticas como esta. Parabéns!
    Continuem sempre produzindo ótimos materiais (e evoluindo, claro). Estamos acompanhando do lado de cá 😉 Abraço.

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